José Augusto Maciel Torres
Sábios e pesquisadores do espírito sabem que podemos fugir de tudo e de todos, menos do nosso “guerreiro interior”. Este sim, é o nosso maior inimigo, exigindo para sua derrota, milhares de técnicas que vão além do conhecido pelos nossos sentidos. Isto coloca as artes marciais como um meio para abrir muitas “COISAS” que estão incubadas no ego humano
O termo marcial vem de Marte, deus da guerra, no panteão romano, irmão de Minerva, deusa da sabedoria. Isto não quer dizer que este deus representasse a guerra exterior ou meramente belicista, responsável pela destruição do homem, somente para o fortalecimento do ego. O simbolismo real desta entidade mitológica era a derrota do inimigo interno, responsável por todas as desgraças humanas.
O guerreiro em seus primeiros passos acredita que com a força física ter-se-á vitória. Porém, o tempo e a evolução espiritual vão lhe ensinar que somente poder-se-á considerar um vencedor de verdade aquele que derrota o seu “eu”, pondo como burrilamento interno uma visão mais ampla da vida, passando pela humildade, educação amor ao próximo e diversas outras características, defendidas pela maioria das religiões universais do Cristo ao Buda.
Ao tecermos comentários sobre as artes marciais, é de suma importância entendermos o que vem a ser arte, que nos parece ser o complemento de marcial. Afirmamos daí, que a arte é um caso privilegiado de entendimento intuitivo do mundo, tanto para o artista que cria as obras concretas e singulares, como para o apreciador que se entrega a elas para penetrar-lhe o sentido.
O verdadeiro artista pega a forma organizadora dos objetivos ou eventos sobre os quais focaliza sua atenção. Ele vê ou ouve, o que está atrás da aparência exterior do mundo. Um exemplo claro é visto no filme “Amadeus”, que tem uma cena que apresenta nitidamente isto que estamos querendo defender. A sogra de Mozart, emocionada e chateada, conta ao compositor quais os motivos que levaram sua filha ao abandonar. Mozart ouve bem e de repente se concentra nas palavras da sogra e começa a sintonizar com a melodia e ritmo do discurso. Daí afasta-se das palavras da sogra e compõe uma ária para “A Flauta Mágica”. Como bom artista que era, Mozart consegue perceber pelo poder seletivo e interpretativo dos seus sentidos, formas que não podem ser nomeadas ou reduzidas a um discurso verbal explicativo, partindo do principio de serem SENTIDAS e não EXPLICADAS. A intuição do artista o faz fugir da criação de cópias da natureza e da vida humana.
Isto se aplica a todos os artistas e artes apresentadas. Devido a isso, as artes marciais não ficam de fora desta “esfera de transcendência”, que acopla inúmeras formas dos símbolos existenciais. Pondo o artista marcial como um buscador de algo que se encontra dentro de si mesmo. Algo que posto em palavras, não permitem definições cartesianas. Encontramos isto através do sentir e fazer bem feito. É o momento em que apagamos a nossa parte externa e entramos em nós mesmos e descobrimos o quanto somos fracos e impotentes perante a “escuridão do nosso ser”.
Esta é considerada a real caminhada que o praticante de artes marciais deve ter, ou seja, procurar minimizar as ilusões exteriores e procurar burilar o espírito. Isto parece ser fácil, mas é a pior parte da evolução marcial. Por isso é algo para poucos e fica para nós como se fosse algo oculto e misterioso. Não que seja permitido a poucos, porém, nem todos conseguem acompanhar, ou melhor, entender esta caminhada. Ficando mais fácil de ser absorvida a parte esportiva e da defesa externa nas artes marciais.
O termo ESOTÉRICO é de origem grega e significa: “secreto, oculto”. Palavra derivada de esotéricos, que em grego tem o sentido de “escondido”. Este termo representa aquilo que se oculta á generalidade das pessoas e se revela apenas aos iniciados, em contraposição a exotérico (externo). Os ensinamentos de Cristo tinham uma parte pública e uma outra secreta; assim vemos no Novo Testamento, quando Jesus falando aos discípulos, diz : “...a vós é concedido saber os mistérios do reino dos céus, mas a eles (o povo) não é concedido. Por isso falo através de parábolas, para que vendo, não vejam, e ouvindo, não ouçam, nem entendam” (Mateus, XIII, 11, 13 etc.). Concluímos estão que a parte exotérica (externa) das artes marciais é fácil de ser assimilada por todos, bastando se apurar a técnica e se desenvolver a parte física. Já a parte esotérica (interna) é mais difícil e exige muito mais dedicação e auto-educação. Ficando esta última parte restrita para algumas poucas pessoas. Não por estas serem melhores ou piores do que as demais, mas é que o interno passa por etapas que não são definidas e sim sentidas e comprovadas individualmente.
As artes marciais somente centradas na matéria são totalmente aleijadas. Devido ao fato de sabermos que somente com as teorias cartesianas e positivas, características do nosso mundo ocidental, as dúvidas sobre várias coisas serão perpetuadas. Deixando-nos somente com a esperança de futuras explicações cientificas que, muitas vezes, fogem ao real valor conceitual lógico e acreditável.
Não existe controle do ser humano sem a plena centralização das energias internas. Como o homem é um MICROCOSMO, nos resta para termos conscientização universal, a plena consciência do MACROCOSMO. Sendo que para termos esta vitória é preciso “sentir” e não CONCEITUAR, tal como um KOAN...
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